quinta-feira, abril 20, 2006

Há 500 anos!

Em Espanha, no mesmo ano em que Colombo (re) descobriu a América, o inquisidor-geral Torquemada projectou a expulsão dos judeus. Os reis católicos assinaram o édito de expulsão e precipitaram a comunidade judaica residente em Espanha a refugiar-se em Portugal.
D. Manuel viveu, então, momentos difíceis. Não temia a comunidade judaica (aliás, dependia em muito dela), mas as boas relações diplomáticas com o país vizinho forçaram o monarca a assinar um decreto de expulsão dos judeus de Portugal (a 5 de Dezembro de 1496). Este decreto incluiu judeus e mouros (estes sempre esquecidos) que haviam recusado o baptismo. Não deixa de ser curioso que nesse mesmo ano Abraão Zacuto publicou o Almanach Perpetuum, uma obra de grande importância para a astrologia e navegação. Esta sucessão aparentemente absurda de episódios ajuda-nos a perceber os dilemas do rei. Assim sendo, e para ganhar tempo, em 1497 a expulsão dos judeus é comutada em conversão forçada.
Em Abril de 1506, um levantamento anti-judaico em Lisboa resultou no grande morticínio. Foi há 500 anos! Dizem que foram assassinadas perto de 2.000 cristãos-novos, porque o povo (e sempre ele) não acreditava nestas conversões forçadas. Também a conjuntura de peste e a murmuração anti-fiscal não ajudaram, e os judeus pagaram caro. Depois disto, o rei decidiu tomar sob sua protecção os cristãos-novos, porque o poder precisava deles e por isso protegeu-os.

Ontem a comunidade judaica relembrou a memória daquele acontecimento que teve lugar nas ruas de Lisboa.
Muitos estão convencidos que foi mais um auto-de-fé. Não é verdade. O primeiro auto-de-fé registou-se anos mais tarde, em 1540. Na sua maioria os que foram queimados em autos-de-fé foram judeus, mas também muitas condenações encontraram motivos na feitiçaria e na depravação de costumes.
Segundo as notícias de ontem, não desmentidas pela comunidade judaica, os acontecimentos de há 500 anos vitimaram 4.000 judeus (segundo fontes coevas). Não é verdade. Segundo Alexandre Herculano, na sua obra Da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, o massacre ceifou em dois ou três dias perto de 2.000 pessoas. Mais, muitos historiadores consideram o número exagerado. A acreditarmos nas notícias de ontem e na comunidade judaica portuguesa, parece que o levantamento popular de 1506 matou mais judeus que muitos autos-de-fé juntos.

4 Comments:

At 21:19, Blogger O Micróbio II said...

Rita, cuidado com os julgamentos de acontecimentos históricos com a mentalidade actual. Mas com todo estas chamadas de atenção que ocorreram nas últimas semanas, era só o que faltava que agora alguém tivesse a ideia de que os lisboetas teriam de pedir desculpas por este facto ocorrido... é que já não seria o primeiro pedido de desculpas completamente descabido.

 
At 21:27, Blogger Rita Tavares said...

Rita? Não fui eu.

 
At 12:52, Blogger O Micróbio II said...

EH, pá... Desculpa lá, Rita. Esqueci-me de olhar a quem assina, uma pessoa até se esquece que já tens companhia no Táxi.

 
At 06:26, Blogger Al Cardoso said...

O que e triste e que ainda hoje, se considere que o serem 2000 ou 4000, e que e importante. O que e importante e que se fossem 20 ja tinham sido muitos, mas isso que sao coisas, que os intolerantes nunca vao entender, hoje como ha 500 anos.

 

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